terça-feira, 5 de outubro de 2010

Última Crônica


A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na realidade estou adiando o momento de escrever. A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer num flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num acidente doméstico, torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: "assim eu quereria o meu último poema". Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço então um último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica. 

Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras, deixa-se acrescentar pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a instituição tradicional da família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a fome. 

Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o garçom, inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma. A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e depois se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da naturalidade de sua presença ali. A meu lado o garçom encaminha a ordem do freguês. O homem atrás do balcão apanha a porção do bolo com a mão, larga-o no pratinho - um bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena fatia triangular. A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de Coca-Cola e o pratinho que o garçom deixou à sua frente. Por que não começa a comer? Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa um discreto ritual. A mãe remexe na bolsa de plástico preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa de fósforos, e espera. A filha aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim. 

São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na fatia do bolo. E enquanto ela serve a Coca-Cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaiado, a menininha repousa o queixo no mármore e sopra com força, apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada, cantando num balbucio, a que os pais se juntam, discretos: "Parabéns pra você, parabéns pra você..." Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando para ela com ternura - ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de bolo que lhe cai ao colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamente do sucesso da celebração. Dá comigo de súbito, a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido - vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso. 
Assim eu quereria minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso.




Fernando Sabino

domingo, 19 de setembro de 2010

Escolhas ..



Agir com o coração é atitude de pessoas puras, isso é algo bonito, sincero.
Mas mesmo estas pessoas chegam a uma fase onde usar a cabeça é o mais correto.
O problema é quando se trata de escolhas referentes ao amor, o assunto fica mais sensível e mais dificultoso, pois as decisões tomadas podem ser definitivas, sem voltas, sem um "me perdoa" ou sem um vamos tentar novamente. E nessas horas é necessário observar se realmente você quer ou se vale a pena correr riscos.

Não quero somente a presença, quero também os pensamentos, pois quando me doo por inteira não é pensando ter as pessoas pela metade e sim tê-las por completo, não se prenda a algo incerto, pois isso pode te fazer mal, OU É OU NÃO É e PRONTO! Quando não obtivermos o amor, o afeto ou a ternura que havíamos solicitado, melhor será desistirmos e procurar mais adiante os sentimentos que nos negaram. Não fazer esforços inúteis, pois o amor nasce, ou não, espontaneamente, mas nunca por força de imposição. Às vezes, é inútil esforçar-se demais, nada se consegue; outras vezes, nada damos e o amor se rende aos nossos pés. Os sentimentos são sempre uma surpresa. Nunca foram uma caridade mendigada, uma compaixão ou um favor concedido.


Glauciane Magalhães Amaral  

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

O silêncio...




Posso dizer que sou uma grande admiradora do silêncio, mas não me refiro ao silêncio que todos conhecem, me refiro à maneira de calar sem fechar o coração , ocultar algumas verdades. Este silêncio no qual me refiro é um tipo de sentimento que não se consegue descrever.

Quando temos um sentimento sincero e bonito dentro de nós , não há palavras para explicar algo tão puro, é questão de estar em contato, apenas sentir..

Por isso digo: Só se deve deixar de calar quando se tem algo a dizer que valha mais do que o silêncio .

Glauciane M. Amaral


Tem dias que o coração amanhece cheio de poços, na verdade esses poços sempre existiram ali, mas em alguns momentos eles renascem e se fazem presentes. Ninguém esta livre de decepções e tristezas, mas se olharmos pelo lado positivo isso nos ensina a viver, em quem confiar e em que acreditar. Quem passa por desilusões sabe o quanto nos dói abafar o sentimento, esses sentimentos acumulados dentro de nós são sombrios, dolorosos, e por mais que venhamos tentando explicar por meio de conversas com amigos, ou textos, músicas, que é o que a maioria das pessoas fazem, não há palavras suficientes que possam descrever o que queremos que os outros entendam.

Uma confusão de sentimentos...


Glauciane Magalhães Amaral 

terça-feira, 14 de setembro de 2010

O essencial é Invisível aos olhos ...



“Um cão não precisa de carros modernos, palacetes ou roupas de grife. Símbolos de status não significam nada para ele. Um pedaço de madeira encontrado na praia serve. Um cão não julga os outros por sua cor, credo ou classe, mas por quem são por dentro. Um cão não se importa se você é rico ou pobre, educado ou analfabeto, inteligente ou burro. Se você lhe der seu coração, ele lhe dará o dele. É realmente muito simples, mas mesmo assim, nós humanos, tão mais sábios e sofisticados, sempre tivemos problemas para descobrir o que realmente importa ou não.”         

 Filme Marley e Eu

EU TE AMO... NÃO DIZ TUDO!





Você sabe que é amado(a) porque lhe disseram isso?


A demonstração de amor requer mais do que beijos, sexo e palavras.


Sentir-se amado é sentir que a pessoa tem interesse real na sua vida,


Que zela pela sua felicidade,
Que se preocupa quando as coisas não estão dando certo,


Que se coloca a postos para ouvir suas dúvidas,
E que dá uma sacudida em você quando for preciso.


Ser amado é ver que ele(a) lembra de coisas que você contou dois anos atrás,


É ver como ele(a) fica triste quando você está triste,
E como sorri com delicadeza quando diz que você está fazendo uma tempestade em copo d'água.


Sente-se amado aquele que não vê transformada a mágoa em munição na hora da discussão.


Sente-se amado aquele que se sente aceito, que se sente inteiro.
Aquele que sabe que tudo pode ser dito e compreendido.


Sente-se amado quem se sente seguro para ser exatamente como é,
Sem inventar um personagem para a relação,
Pois personagem nenhum se sustenta muito tempo.


Sente-se amado quem não ofega, mas suspira;
Quem não levanta a voz, mas fala;
Quem não concorda, mas escuta.


Agora, sente-se e escute: Eu te amo não diz tudo!

Estamos com fome de amor ..





Uma vez Renato Russo disse com uma sabedoria ímpar: "Digam o que disserem, o mal do século é a solidão". Pretensiosamente digo que assino embaixo sem dúvida alguma. Parem pra notar, os sinais estão batendo em nossa cara todos os dias.


Baladas recheadas de garotas lindas, com roupas cada vez mais micros e transparentes, danças e poses em closes ginecológicos, chegam sozinhas. E saem sozinhas. Empresários, advogados, engenheiros que estudaram, trabalharam, alcançaram sucesso profissional e, sozinhos.


Tem mulher contratando homem para dançar com elas em bailes, os novíssimos "personal dance", incrível. E não é só sexo não, se fosse, era resolvido fácil, alguém duvida?


Estamos é com carência de passear de mãos dadas, dar e receber carinho sem necessariamente ter que depois mostrar performances dignas de um atleta olímpico, fazer um jantar pra quem você gosta e depois saber que vão "apenas" dormir abraçados, sabe, essas coisas simples que perdemos nessa marcha de uma evolução cega.


Pode fazer tudo, desde que não interrompa a carreira, a produção. Tornamos-nos máquinas e agora estamos desesperados por não saber como voltar a "sentir", só isso, algo tão simples que a cada dia fica tão distante de nós.


Quem duvida do que estou dizendo, dá uma olhada no site de relacionamentos Orkut, o número que comunidades como: "Quero um amor pra vida toda!", "Eu sou pra casar!" até a desesperançada "Nasci pra ser sozinho!".


Unindo milhares, ou melhor, milhões de solitários em meio a uma multidão de rostos cada vez mais estranhos, plásticos, quase etéreos e inacessíveis.


Vivemos cada vez mais tempo, retardamos o envelhecimento e estamos a cada dia mais belos e mais sozinhos. Sei que estou parecendo o solteirão infeliz, mas pelo contrário, pra chegar a escrever essas bobagens (mais que verdadeiras) é preciso encarar os fantasmas de frente e aceitar essa verdade de cara limpa. Todo mundo quer ter alguém ao seu lado, mas hoje em dia é feio, démodé, brega.


Alô gente! Felicidade, amor, todas essas emoções nos fazem parecer ridículos, abobalhados, e daí? Seja ridículo, não seja frustrado, "pague mico", saia gritando e falando bobagens, você vai descobrir mais cedo ou mais tarde que o tempo pra ser feliz é curto, e cada instante que vai embora não volta.


Mais (estou muito brega!), aquela pessoa que passou hoje por você na rua, talvez nunca mais volte a vê-la, quem sabe ali estivesse a oportunidade de um sorriso a dois.


Quem disse que ser adulto é ser ranzinza? Um ditado tibetano diz que se um problema é grande demais, não pense nele e se ele é pequeno demais, pra quê pensar nele. Dá pra ser um homem de negócios e tomar iogurte com o dedo ou uma advogada de sucesso que adora rir de si mesma por ser estabanada; o que realmente não dá é continuarmos achando que viver é out, que o vento não pode desmanchar o nosso cabelo ou que eu não posso me aventurar a dizer pra alguém: "vamos ter bons e maus momentos e uma hora ou outra, um dos dois ou quem sabe os dois, vão querer pular fora, mas se eu não pedir que fique comigo, tenho certeza de que vou me arrepender pelo resto da vida".


Antes idiota que infeliz!


Arnaldo Jabor

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Companheirismo.




Eis uma das virtudes mais raras da humanidade: o companheirismo.
Como o próprio nome diz, companheirismo é a capacidade que o ser humano pode ter ou vir a desenvolver quando acompanha alguém.
Entretanto, acompanhar alguém não quer dizer apenas estar presente só de corpo e sim de espírito.
Companheirismo não se pede, pois ele não é forçado a existir,
Simplesmente o é ...
Companheirismo é o prazer de estar junto tanto nos bons, quanto nos maus momentos.
É uma simples demonstração de carinho, afeto, atenção.
Enfim, é aquilo que nos une , porque ele é mútuo.

Respeito e Amor = Combinação Perfeita !



Respeito é a expressão concreta do amor, e respeitar é acreditar, valorizar o que e como o outro é, não invadindo o que “lhe pertence” e não exigindo que este seja aquilo que queremos. Quem respeita não age impulsionado pelo egoísmo, pensando somente em seu próprio prazer e satisfação.
O que é que temos amado, o que é que respeitamos e cuidamos? Tem muita gente infeliz, porque amou coisas erradas e destruiu o que realmente deveria amar.
É importante também termos a consciência de que quem ama respeita e se deixa respeitar, pois, aceitar o cuidado do outro também é virtude, e permitir-se respeitar é sinal de amor.
O verdadeiro amor não é passivo, e não existe somente em nossas idéias; ao contrário, ele é ativo, pois quem ama cuida e se interessa por quem ama. E mais, quem ama respeita, não sufoca, não invade, mas sim, valoriza o ser amado.

Os dias ...

Podemos acreditar que tudo que a vida nos oferecerá no futuro é repetir o que fizemos ontem e hoje. Mas, se prestarmos atenção, vamos nos dar conta de que nenhum dia é igual a outro. Cada manhã traz uma benção escondida; uma benção que só serve para esse dia e que não se pode guardar nem desaproveitar.
Se não usamos este milagre hoje, ele vai se perder.
Este milagre está nos detalhes do cotidiano; é preciso viver cada minuto porque ali encontramos a saída de nossas confusões, a alegria de nossos bons momentos, a pista correta para a decisão que tomaremos.
Nunca podemos deixar que cada dia pareça igual ao anterior porque todos os dias são diferentes, porque estamos em constante processo de mudança.

Paulo Coelho


Recolher-se ...

"Às vezes é preciso recolher-se. O coração não quer obedecer, mas alguma vez aquieta; a ansiedade tem pés ligeiros, mas alguma vez resolve sentar-se à beira dessas águas. Ficamos sem falar, sem pensar, sem agir. É um começo de sabedoria, e dói. Dói controlar o pensamento, dói abafar o sentimento, além de ser doloroso parece pobre, triste e sem sentido. Amar era tão infinitamente melhor; curtir quem hoje se ausenta era tão imensamente mais rico. Não queremos escutar essa lição da vida, amadurecer parece algo sombrio, definitivo e assustador. Mas às vezes aquietar-se e esperar que o amor do outro nos descubra nesta praia isolada é só o que nos resta. Entramos no casulo fabricado com tanta dificuldade, e ficamos quase sem sonhar. Quem nos vê nos julga alheados, quem já não nos escuta pensa que emudecemos para sempre, e a gente mesmo às vezes desconfia de que nunca mais será capaz de nada claro, alegre, feliz. Mas quem nos amou, se talvez nos amar ainda há de saber que se nossa essência é ambigüidade e mutação, este silencio é tanto uma máscara quanto foram, quem sabe, um dia os seus gestos."

Só dê ouvidos a quem te ama !


Só dê ouvidos a quem te ama. Outras opiniões, se não fundamentadas no amor, podem representar perigo. Tem gente que vive dando palpite na vida dos outros. O faz porque não é capaz de viver bem a sua própria vida. É especialista em receitas mágicas de felicidade, de realização, mas quando precisa fazer a receita dar certo na sua própria história, fracassa.

Tem gente que gosta de fazer a vida alheia a pauta principal de seus assuntos. Tem solução para todos os problemas da humanidade, menos para os seus. Dá conselhos, propõe soluções, articula, multiplica, subtrai, faz de tudo para que o outro faça o que ele quer.

Só dê ouvidos a quem te ama, repito. Cuidado com as acusações de quem não te conhece. Não coloque sua atenção em frases que te acusam injustamente. Há muitos que vão feridos pela vida porque não souberam esquecer os insultos maldosos. Prenderam a atenção nas palavras agressivas e acreditaram no conteúdo mentiroso delas.
Há muitos que carregam o fardo permanente da irrealização porque não se tornaram capazes de esquecer a palavra maldita, o insulto agressor. Por isso repito: só dê ouvidos a quem te ama. Não se ocupe demais com as opiniões de pessoas estranhas. Só a cumplicidade e conhecimento mútuo pode autorizar alguém a dizer alguma coisa a respeito do outro.

Quero viver para fazer esquecer... Queira também.Nem sempre eu consigo, mas eu não desisto. Não desista também. Há mais beleza em construir que destruir.

O que te salva não é o que os outros andam achando, mas é o que Deus sabe a teu respeito.


Pe. Fábio de Melo