quinta-feira, 12 de maio de 2011




Depois de um estranho sonho que tive noite passada , ao ler uns textos de Tati Bernardi
Encontrei esse , e o adaptei a um episódio que passei em minha vida.


A gente quase completou um ano de namoro, quase.
Faltou um mês ou um pouquinho mais, não lembro.
Mas hoje, sem mais nem menos, completamos um ano e cinco meses de separação.
Há um ano e cinto meses passados essa hora, exatamente a essa hora, eu lembro bem.
Eu estava em casa ., era meu aniversário e eu não tirava nenhum segundo se quer da minha cabeça , será se ele vem? .. será se ele sente minha falta?... será que vai me deixar como ultima opção mais uma vez?..
E eu esperei, esperei, esperei tanto tempo, nossa, como eu esperei por um sinal de vida dele..
Acho que eu nunca esperei tanto nada em toda a minha vida.
Outro dia uma amiga me perguntou o que você tinha me ensinado.
A gente estava conversando sobre os legados que as pessoas deixam em nossas vidas e ela quis saber qual tinha sido o seu.
O coiso me ensinou a gostar de sertenejo e cinema europeu, o outro coiso me ensinou a gostar de paixão á flor da pele.
Teve o coisinho que me ensinou a ser engraçada e mais cabeça. E você?
Que raios me ensinou?
Fiquei sem saber na hora, fiquei sem saber o que responder para minha amiga.
Mas hoje, com mais de um ano separados, posso dizer que foi você quem me ensinou a lição mais importante da minha vida: você me ensinou a sofrer. A sofrer por alguém além dos sofrimentos em casa , na escola , com meus pais , enfim!
Eu nunca, nunca, em dezoito anos de vida, tinha sofrido por alguém que não fosse da minha família.
Nunca. Claro, eu odiava ver meus pais quebrando o pau quando era criança, mas eu lembro que eu, pequenininha, pensava: um dia um príncipe vai me levar para longe dessa casa com gente louca que fuma demais, berra demais, desmaia e chuta vasos. Eu sofri também na escola, quando para alguém me enxergar eu tinha de promover bizarrices. Mas eu era muito nova para me separar das bizarrices e acabava também chamando a minha atenção: será que eu sou bizarra?Depois, em casa, quando eu dobrava direitinho o uniforme para o dia seguinte e me sentia um papel de parede bege que ninguém entende pra que serve, eu pensava: um dia um príncipe vai me levar pra longe dessa falta de vida, dessa falta de beleza, dessa falta de compreensão, dessa falta de cor, dessa falta de sei lá o que porque eu era novinha demais pra saber o que faltava.

Esperar o raio do príncipe sempre disfarçou minha dor, sempre me refugiou dela. Mas quando você, no dia 13 de janeiro de 2010, me fez sentir obrigada a te deixar e seguir meu caminho sozinha, fiquei sem saber como fugir da dor. Você era meu príncipe.

Depois de tantos amores estranhos, pequenos, errados e tortos, finalmente eu tinha reconhecido no seu olhar centralizado e no seu sorriso espalhado, o meu príncipe. E o meu príncipe estava saindo da minha vida. Que porra eu ia esperar da vida agora? Quem iria me levar para longe se você não estaria mais por perto? Não teve como. Foi a primeira vez na vida que não consegui me enrolar e acabei deixando a dor vencer. Pela primeira vez a realidade falou mais alto que a fantasia. Pela primeira vez a realidade da sua ausência falou mais alto que a fantasia de anos a sua espera. Sofri pra caralho, como diz por aí quem sofre pra caralho..
Mais do que livros cabeças, músicas bacanas, frases inteligentes, lugares descolados, você me ensinou o que realmente importa aprender nessa vida: que a vida pode ser uma grande, imensa e gigantesca solidão.
É, ela pode ser. E que não existe porra de príncipe porra nenhuma. Que nem ninguém e nem nada pode te levar para longe de nada. É isso e pronto. E é assim pra todo mundo. E pronto. Qual o drama? A dor infinita dos dias infinitos que vieram depois do dia em que você se foi pra sempre veio misturada com toda a dor que eu não senti em todos esses anos. A dor da sua ausência trouxe vasos jogados, bitucas eternas de cigarros em longas discussões pesadas, tardes perdidas em odiar o mundo, cabeças viradas, corredores frios, papéis de parede beges e grupinhos festivos e fechados. A nossa dor acabou sendo toda a dor que fazia fila em mim para ser sentida. A dor da sua partida trouxe toda a dor do mundo. De uma só vez. Mas agora já passa da meia noite. pra te falar a verdade, eu já não sofro mais o nosso fim. E pra te falar ainda mais a verdade, eu acho mesmo que você foi o príncipe que eu esperei a vida inteira. Você chegou e me levou embora. Levou embora a menina que tinha medo de sentir a vida e esperava uma salvação para tudo. Quem sobrou é essa desconhecida que se conhece muito bem em suas bizarrices, assiste jornais todos os dias, substituiu o bege pela cor do verão, aprendeu a amar os seus pais acima de qualquer coisa, adora os poucos e estranhos amigos, não espera mais pelo cavalo branco mas fica ansiosa pelo início da novela e talvez esteja pronta para amar de verdade. Amar um homem e não um príncipe.